Artigos

Perspectivism and shamanism in the Jungian clinic: the jaguar as an archetypal image of the Latin American cultural unconscious (2022)

Resumo: Amerindians, living in a perspective of synchronicity, attribute to symmetry a negative value that produces an understanding of unstable dualism cosmologies, in a continuous and dynamic imbalance, in a notion of complementarity between conscious and unconscious. These notions are in line with the view of synchronicity proposed by Jung (1952/1972) and Cambray (2013), a view that expands temporal, acausal boundaries, within a perspective of interconnection, resonance and correspondence. Amerindian epistemologies break‐up the discontinuity between animals and humans. By establishing a parallel with the Jungian concept of the relationship between unconscious and conscious, we reach a dimension of personification of both, a continuous and permanent flow of meaning. We introduce the jaguar as a symbol of Amerindian cultures and as an archetypal image of the numinosum that activates the …

A experiência da nomeação das crianças Guarani como educação espiritual (2021)

Resumen: Este artículo presenta algunos apartados reflexivos extraídos de la investigación postdoctoral desarrollada con los pueblos indígenas de la etnia Guaraní que viven en Rio Grande do Sul, al sur de Brasil. Se propone reflexionar sobre la educación y constitución del ser humano a partir de las cosmologías de este pueblo, buscando comprender estos procesos desde el ritual de nombramiento al niño guaraní, el chamanismo y los procesos que conducen a la transformación de la persona en animal, según la concepción amerindia. Con base en estas comprensiones, podemos ampliar la noción de espiritualidad en el contexto de la educación amerindia, así como profundizar en las investigaciones sobre la epistemología chamánica y la experiencia de la infancia, con contribuciones de la Psicología Jungiana. La investigación se desarrolló desde la perspectiva de estudios autoetnográficos con líderes y maestros guaraníes.

Trançado entre culturas, entre línguas: reflexões sobre a autoria e a coautoria (2021)

Resumo: Este artigo apresenta reflexões acerca das relações interculturais que podem atravessar a escrita acadêmica em coautoria, considerando o trançado entre culturas, línguas, entre o simbólico e o mitológico, densificado pelo movimento teórico-vivencial. No contexto de uma universidade comunitária (UNISC), de uma universidade pública (Unipampa) e de um grupo de pesquisa (Peabiru: educação ameríndia e interculturalidade UFRGS/UNISC), a relação entre pesquisadores indígenas e não indígenas fez emergir a Metodologia Vãfy, que convida a aproximar o que aparentemente não se junta: o mundo indígena e o não indígena. A narrativa de origem do povo Kaingang, que apresenta as metades clânicas kamé e kairú, inspira um desenho alternativo de produção acadêmica, cadenciado pelo protagonismo indígena que ensina a estar junto, construindo um campo de vivência intercultural que extrapola o …

De escola colonizadora a lugar de resistência étnica: A escola indígena específica e diferenciada que querem os povos Mbya Guarani (2020)

Abstract: This article proposes discussions about the education in the indigenous school, from the perspective of the Mbya-Guarani people of the villages Tekoa Ka'agui Poty and Tekoá Yvy Poty, sur of Brazil. The indigenous school wanted to transform from the model of a colonialist and integrationist school into a place of ethnic resistance and the preservation of culture. As a public policy, its effectiveness depends on governmental perspectives that are influenced by non-indigenous difficulty in understanding and respecting the Guaraní culture. The Guarani make no distinction between life, education, and spirituality and want a school that contributes to strengthening this way of living. The research methodology is inspired by participatory and collaborative research, which provides reciprocal and symmetrical exchanges between indigenous and non-indigenous people.

Encontros interculturais entre um indígena Kaingang e não indígenas: enlaces em um pensar perspectivista e sincrônico (2020)

Resumo: O diálogo entre pesquisadores indígenas e não indígenas, em espaços acadêmicos, pode acolher novas formas de pensar a educação e a pesquisa. Mudanças metodológicas apresentam-se na forma de fazer ciência, considerando os movimentos sincrônicos que aproximam os pesquisadores e que potencializam as pesquisas e publicações oriundas dessas mudanças. A escrita deste texto, que tem a participação de um indígena Kaingang, mestrando em Educação, de uma pesquisadora de doutorado em Educação e da orientadora, é um exercício que metamorfoseia pensamentos e ações, em uma aproximação com o estar ameríndio. A conjunção de reflexões apresentadas tem ampliado os sentidos de aprendizagem, procurando desenvolver no campo educativo a convivência e a integração do que aparentemente não se junta: o mundo indígena e o não indígena no âmbito do pensar simbólico.

A Saúde na perspectiva Guarani e a inserção Inter(geo)cultural da Psicologia Comunitária (2020)

Resumo: Desenvolvemos esta escrita a partir de uma dimensão que envolve o diálogo de um campo epistêmico da psicologia comunitária com indígenas, mais especificamente com os Guarani, no Rio Grande do Sul, que altera algumas perspectivas de modelos de intervenção do próprio psicólogo comunitário. Alguns questionamentos e diretrizes serão lançadas numa coerência teórica de construção da psicologia comunitária como disciplina que se baseia na práxis, portanto, num modelo que deve ser continuamente repensado em seus constructos teóricos e metodológicos. Os anos sistemáticos de trabalho de pesquisa, de ensino e de extensão com os Guarani, tanto na educação quanto na psicologia, produziram uma reflexão para pensar diretrizes para uma inserção com indígenas. O que faz um psicólogo numa aldeia? O que o distingue de um pedagogo ou de um antropólogo? Será necessária a presença do psicólogo? Será necessário pensarmos num giro epistemológico no sentido de uma prática pautada na intervenção? Numa perspectiva histórica, profissionais da psicologia comunitária têm construído com muita seriedade esse campo, como espaço epistemológico de transformação, de pesquisa e observação participante, de compromisso social e comunitário. Destacamos autores comprometidos com a produção ética de um fazer e um pensar na América Latina, pautados na educação popular276, psicologia da libertação277 e tantos profissionais que são referência para a sistematização da psicologia comunitária278, que trabalham com práticas de saúde ou comunitárias não apenas como exercícios instrumentais, mas como …

Epistemes Indígenas (Guarani e Kaingang) e Universidade: percursos de encontros em ações participantes e colaborativas (2019)

Resumo: A experiência de pesquisa com coletivos indígenas (Guarani e Kaingang) em duas universidades no Rio Grande do Sul (Brasil) tem provocado reflexões acerca da interculturalidade e do sentido de ações participantes e colaborativas nesse contexto. Neste artigo, partimos da prática, de encontros sistemáticos com os indígenas por meio do ensino, da pesquisa e da extensão; problematizamos as contribuições destes para as universidades e, ao mesmo tempo, buscamos fazer uma discussão teórica sobre as próprias ações, revendo as trajetórias a partir de diálogos, de teorizações ao longo de vivências contínuas de trabalho colaborativo. Com isso, também nos dispomos a pensar o sentido de teorias e de metodologias que se constroem no diálogo que envolve as investigações e que tem como pressuposto o avançar nas condições de vida dos parceiros indígenas, compreendendo a importância da autoria e do poder pensar a própria realidade. 

Crianças indígenas, educação, escola e interculturalidade (2016)

Resumo: Apresentamos, nesse artigo, reflexões produzidas a partir da convivência com o povo Guarani, buscando compreender seus processos próprios de educação que envolvem as crianças e são responsáveis pela formação da pessoa. O estudo, decorrente de pesquisas que se prolongam há mais de uma década, se assenta em uma perspectiva etnográfica, em que sensibilidade e razão se aliam para construir compreensões acerca dos modos de educar deste povo, em diálogo com autores que descrevem a educação das crianças indígenas em outros tempos e lugares. Constatamos uma educação que considera a dimensão espiritual, a dimensão coletiva de uma comunidade que se mostra implicada com a formação da pessoa e uma dimensão individual, em que cada um se responsabiliza por si, imbuído por uma busca e por um caminhar.

Escola diferenciada Guarani: entre o viver seminal e o viver ocidental (2015)

Resumo: A construção das escolas diferenciadas da tradição Guarani tem representado um desafio para suas aldeias no interior do Rio Grande do Sul, bem como para as escolas rurais que acompanham esse processo e as universidades envolvidas. Partindo da observação e convivência com duas aldeias indígenas, a de Estrela Velha e a de Salto do Jacuí (investigando infâncias e educação Guarani), encontramos três escolas: a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Guarani, em Salto do Jacuí; a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Karaí Tata Endy Vera Claudio Acosta, em Estrela Velha, e profissionais da Escola Itaúba, situada no município de Estrela Velha, na qual possuem 6 estudantes indígenas. As duas primeiras estão sendo construídas nas aldeias e trabalham até o quinto ano do Ensino Fundamental. Enquanto são construídas, as crianças saem para escolas não indígenas. Em ambas as escolas diferenciadas, existem professores indígenas e não indígenas que ensinam principalmente língua Guarani, Português e Matemática, situadas no interior do Rio Grande do Sul. Nesse processo, nas duas aldeias, estão implicados lideranças indígenas, crianças e jovens das aldeias, professores Guarani e não indígenas, diretores da rede Estadual de Educação, Karai1 e KunhãKarai, estudantes e pesquisadores do Mestrado em Educação da Universidade de Santa Cruz–UNISC/RS2, que juntos desenvolvem uma pesquisa-ação e etnográfica que vem acontecendo desde o início de 2013 de modo compartilhado e negociado através do diálogo e da escuta do que pensamos e queremos como escola diferenciada em …

Infância e educação Guarani: para não esquecer a palavra (2014)

Resumo: O encontro com a cosmologia Guarani, a partir das crianças, tem se revelado como encontro com a palavra antiga que os Guarani não querem esquecer, pois diz respeito ao sentido da casa, da morada de nossos saberes. A Opy como a “universidade” dos Guarani e a aldeia como lugar de educação coletiva na qual cada um pode encontrar o melhor de si mesmo apontam tanto para valores educacionais sustentados em uma poética e uma ética enraizadas no “estar sendo” da filosofia ameríndia de Kusch quanto para fontes de um pensamento que mescla a cotidianidade com o misterioso e o transcendente. Os desenhos das crianças e a convivência nas escolas de duas aldeias Guarani emergem como disparadores para um diálogo entre velhos, jovens e adultos Guarani e não Guarani, na vivência de aprendizados que pulsam intensamente entre a palavra do estar sendo ameríndio e do ser ocidental.

A Psicologia comunitária no contexto ameríndio: a educação mitológica Guarani na indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão (2013)

Resumo: A Psicologia Comunitária tem se constituído ao longo das últimas décadas a partir de um esforço sistemático de intervenção com os diversos grupos sociais, notadamente os grupos mais empobrecidos ou em situação de inclusão, marginalizada na vida social e, até mesmo, de exclusão social. Essa interação tem se dado de maneira geral, e tendo como referência o contexto brasileiro, a partir da ênfase na autonomia e no protagonismo das populações com as quais se tem trabalhado, através da ampliação da criticidade desses sujeitos em relação ao contexto e aos problemas que apresentam. Nesse processo, a partir da incorporação de elementos...

O processo educacional na mística das tendas e caminhos (2012)

Resumo: A realidade do mundo contemporâneo está marcada, em grande parte, pela fragilidade das opções pessoais, pela velocidade das conexões tecnológicas e pela superficialidade das relações sociais. Nesse contexto, encontra-se a educação, que, por meio de uma série de processos pedagógicos, busca contribuir com a formação pessoal e a transformação social. No processo educacional, a mística, como uma energia qualificada, pode aprofundar as singularidades vividas e as sociabilidades vivenciadas, tendo a metáfora das tendas e caminhos como suporte para o entendimento. As tendas são entendidas como espaços privilegiados para vivenciar a pertença qualificada, a presença relacional e a participação cooperativa, e os caminhos são movimentos para contemplar a realidade, peregrinar na companhia do outro e encontrar o sentido como horizonte do caminho. Com base nessa relação dialógica, a educação é convidada a seguir caminhos que levam nossos corpos e nossas novas ações em direção a um projeto educacional mais significativo, bem como a descobrir, pela educação, que somos capazes de acolher, nas tendas, a ternura e a energia, a interioridade e a exterioridade, a singularidade e a diversidade.

Nas fronteiras da indissociabilidade-a contribuição da extensão universitária (2011)

Resumo: Na história da humanidade, poucas foram as instituições que permaneceram ativas e significativas por um período muito longo. Uma dessas instituições, porém, é a universidade, que nos seus oito séculos de existência, continua sendo um referencial, principalmente na área do conhecimento, da educação e do desenvolvimento social. Dentre tantas razões para a sua longevidade, é possível apontar para aquela que define as finalidades dessa instituição. Esse argumento é reforçado por Santos, que afirma que" a notável continuidade institucional da universidade sobretudo no mundo ocidental sugere que os seus objetivos sejam permanentes"(1999, p. 187). De uma forma ou outra, a instituição universitária sempre esteve vinculada a algumas funções centrais ou permanentes, e que foram construindo a sua identidade e foram dando as razões da sua existência.

Educação mito-dança-rito: as razões dialógicas do conhecer Guarani (2010)

Resumo: O mito-dança-rito neste artigo é desenvolvido dentro de um olhar educativo numa relação indissociável na cultura Guarani, cuja inseparabilidade revela um modo de educação que se produz provocando diálogos. O mito acontece enquanto narração, o rito é o acontecimento e a dança o que possibilita a vivência que integra passado e presente através do pensamento e sentimento a partir de uma razão dialógica. O mito-dança-rito é uma tríade constitutiva da educação que necessita ser pensada para o entendimento da formação do jovem Guarani, tendo em vista que orienta a organização social, política e econômica que os velhos e os jovens Guarani têm construído na cultura contemporânea dentro de uma postura dialógica. Propor uma reflexão sobre a educação Guarani através da dança torna-se cada vez mais uma atividade complexa, pois envolve aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais. Dançar para pensar é um ethos na educação Guarani, uma narrativa, uma experiência e um aprendizado sobre uma forma preciosa de um povo construir o seu próprio conhecimento.

A alegria do corpo-espírito saudável: ritos de aprendizagem guarani (2006) - Tese de doutorado no PPPG-Edu/UFRGS

Resumo: A dança Guarani é parte de um contexto ritualístico e mitológico desta cultura, que se refaz continuamente no cotidiano de sua educação. A compreensão da dança como conhecimento foi se dando na vivência etnográfica e fenomenológica, em cinco aldeias, quatro delas situadas no Rio Grande do Sul, nas seguintes localidades Lomba do Pinheiro, na aldeia Anhentenguá; Canta Galo na aldeia Jataity; Riozinho na aldeia Nhumporã; Camaquã na aldeia Iguaporã e numa aldeia de Santa Catarina, denominada de M´biguaçu. A dança como parte de um rito atualiza o pertencimento emocional e cultural, possibilitando a passagem da esperança em ação. Os princípios da dança Guarani estão situados dentro de uma educação xamânica, na qual corpo e espírito são fontes de aprendizado sensível, sensorial e reflexivo para um estar saudável. A alegria é uma condição cultivada no desvelar do conhecimento, que com o passar do tempo torna-se sabedoria – arandu - aprendizado que se revela ao longo da vida. A face cotidiana da educação das crianças expressa um tipo de aprendizagem vivencial na qual são valorizados o movimento vital e criativo, o contato corporal e a afetividade. Saúde, corporeidade, espiritualidade e sentimento são categorias entrelaçadas aos sentidos da dança na aprendizagem Guarani e revelam a produção cultural de um sistema de educação que tem a vida como um valor a ser cuidado. Denomino de ritos tanto os espaços da dança, quanto as relações entre mães e filhos. Estes ritos são fontes de aprendizados que revelam uma gestualidade emocionada dentro de uma corporeidade vivida e acontecem num …