Vozes Ancestrais

Vozes ancestrais femininas são aprendizagens para a escuta da ancestralidade, da sabedoria das mulheres, indígenas, curandeiras, xamãs. Cada imagem é uma voz trazida em sua emoção, um aprendizado de respeito e de cuidado. É também um tarô xamânico, que revela a possibilidade de um percurso de cura da história social de um feminino ferido, desqualificado e desvalorizado. Cada carta é um chamado para o valor da mulher, uma orientação para a caminhada, para as encruzilhadas do amor, do trabalho e das relações

Sobre mim

Sou psicóloga (UFC), analista junguiana (IJRS/AJB), doutora em educação pela UFRGS, professora do departamento de Psicologia e professora dos Programas de Pós-graduação em Educação e Psicologia da UNISC. Vice-líder do grupo de pesquisa do CNPQ: PEABIRU: educação ameríndia e interculturalidade(UFRGS/UNISC). Bolsista produtividade PQ/ CNPQ. Professora didata de biodança da Escola Gaúcha de Biodança. Coordena o projeto de pesquisa Aprendizagens interculturais com os Guarani na educação básica. (FAPERGS/ Edital pesquisador gaúcho). Pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Educação na UFRGS.

Integrante do grupo de pesquisa da ANPEPP - GT-AION: interdisciplinaridades da pesquisa em psicologia analítica no Brasil.


Começos de mim...

Desde criança, gostava muito de imaginar, de criar novas realidades, de escrever diários. Penso que foi ali que tudo começou, mas um fato marcante na minha vida aconteceu, quando conheci Dorli Signor, artista, padre e criador da biodança em argila, em 1990. Senti que poderia esculpir o paraíso na argila e isso foi me produzindo movimentos com colagens, poesias, esculturas e pintura. Este encontro foi tão potente, que sai de Fortaleza e fui morar em Santa Maria, em busca de minha natureza. Todos esses espaços de arte são significados por mim, como se a cada movimento, pudesse revelar mais de mim mesma e do que ainda não sei quem sou.

 No livro A menina e a Onça: vozes ancestrais indígenas, a menina engravidava as imagens e a onça a ajudava a pari-las. Essa a tocava, despertava-a com o som da criação, sussurrando em seu ouvido o segredo de sua alma.

 As pinturas emergiam dentro do útero, com a ajuda da onça, e eram fertilizadas, como o beija-flor que adentra em sua morada e realiza a sua fecundação. Essas pinturas foram polinizadas a cada encruzilhada. E foram tornando-se espiraladas. As escolhas foram juntando opostos que não se ligavam.

 As imagens vão abrindo ciclos e permitindo uma grande transformação da personalidade da menina

- Como posso pintar se não sei pintar? - perguntou a menina.

- Desliza a tinta no papel e verás que é como as emoções que vão saindo de teu corpo e tornando-se visíveis – respondeu a onça.

- Verás que o pincel, ao tocar o papel, é como um beijo que se fecunda na flor. E assim, aprenderás a pintar - ensinou o beija-flor.

E a menina entregou-se à arte de pintar os traços de suas encruzilhadas, deixando e acreditando em Jung, quando pinta e escreve sobre “o caminho que virá”,  no livro vermelho, enquanto um inconsciente que é acolhido e escutado, como um impulso de vida que deseja se realizar.

A arte como Potência Terapêutica

Como num pulsar, a gestação foi acontecendo e fui aprendendo a pintar. As imagens brotavam de uma instância que enraizava o instinto, a corporeidade e o espiritual. Pintar era sobrenatural, como Jung nos ensina, era um ato de acessar o inimaginável, de acolher o inconsciente que nos engravida de imagens.